O Movimento das Forças Democráticas de Casamansa (MFDC) e autoridades senegalesas assinaram ontem, 04.08.2022, em Bissau o acordo de paz, denominado “Declaração de Compromisso Mútuo entre o Estado do Senegal e MFDC para deposição de Armas”, que visa acabar com a guerra douradora nas zonas de Casamansa, sul do Senegal.
O processo de negociação com as autoridades do Senegal na era de Macky Sall que culminou com a assinatura de acordo de paz em Bissau, patrocinado pelo Presidente da República, Úmaro Sissocó Embaló, iniciou desde 2014, no qual se envolveu a Comunidade Santo Egídio de Roma assim como as autoridades cabo-verdianas.
A Guiné-Bissau tornou-se palco central de concretização dos consensos, através do Chefe de Estado e igualmente Presidente em exercício da CEDEAO, que no seu discurso garantiu aos membros do movimento que o Chefe de Estado Senegalesa, Macky Sall, vai cumprir na íntegra os pontos espelhados no documento, caraterizando-o de um homem sério.
“É melhor assim, porque somos todos irmãos e a paz é fundamental. Sintam-se a vontade aqui (Guiné-Bissau), este gesto de reconciliação é de louvar, as próprias armas vão ser entregues a nós, para que sintam mais livres”.
“De modo que, quero vos garantir que o Presidente Macky Sall vai cumprir na íntegra o que foi assinado há bocado, porque ele é uma pessoa séria igual a vocês”.
Ainda o Chefe de Estado guineense considerou de um marco histórico, visto que o referido conflito durou três décadas.
“É um fato inédito na história deste conflito. Quando iniciou, eu na altura tinha 10 anos de idade, e hoje já com 50 anos. Provocou vários danos e consequências sempre foram negativas, motivo pelo qual, sairão heróis depois deste processo”, frisou Sissocó Embaló numa mensagem dirigida às delegações.
Embora o ato de assinatura fosse público, o documento, segundo os protagonistas, é confidencial.
O Movimento das Forças Democráticas de Casamansa (MFDC) surgiu em 1947, com o objetivo de reivindicar o desenvolvimento da região de Casamansa em igualdade aos outros municípios do Senegal, como Dakar, Saint-Louis, Gorée e Rufisque.
O conflito de separação em Casamansa está também associado à contestação da fronteira colonial e o acesso aos recursos; tendo como argumentos:
Que a Administração central senegalesa tem marginalizado Casamansa dos benefícios económicos e sociais em benefício de Dakar, pois algumas infraestruturas da região eram desviadas para o centro do Senegal. Para eles, os senegaleses do norte eram maiores beneficiários dos postos da Administração, da alienação dos terrenos sem títulos e do direito de pescas, em detrimento dos senegaleses (casamanceses) do sul.
Em curtas palavras perante o Presidente guineense, os assinantes mostraram que estão interessados para pôr fim ao conflito que já durou mais de três décadas.
Importa salientar que, depois da morte do antigo líder do Movimento em 2007, Padre Augustin Diamacoune Senghor, o MFDC dividiu-se em duas fações (do sul, lado fronteiriço com a Guiné-Bissau, liderada por César Atout Badiate e do Norte arredores da Gambia, chefiada por Salifou Sadio) devido a falta de coordenação de “interesses”. Em Bissau estiveram presentes somente os elementos da fação norte.
Por parte das autoridades do Senegal, assinou o Coordenador do Comité Ad Hoc, Amiral Papa Farba Sarr, do MFDC, foram assinantes o General César Atout Badiate e Coordenador do Comité Provisório, Lassana Fabouré.
O ato foi testemunhado pelas autoridades nacionais através do Chefe da Divisão Central de Contra Inteligência Militar, Samuel Fernandes. Assim como Freddy Nkurikye (concelheiro sénior) do Centro de Diálogo Humanitário e Alexandre Liebeskind, Diretor Regional da África Francófona.
Por: João Paulo Djata