A Líbia mergulhou numa década de violência desde a queda de Muammar Kadhafi em 2011, um caos marcado nos últimos anos pela existência de fações rivais que dividem o país em leste e oeste, agravado pela interferência estrangeira.
O país encontra-se em plena contagem decrescente para a realização na próxima sexta-feira de eleições presidenciais, processo que continua envolto em incertezas.
Alguns dos principais acontecimentos desde a morte do antigo líder líbio e que marcam a última década da Líbia:
A morte de Muammar Kadhafi
Em fevereiro de 2011, na esteira da Primavera Árabe, começa em Bengazi (leste) um protesto violentamente reprimido, que viria a espalhar-se, depois, a todo o país.
Em março, uma coligação liderada pelos Estados Unidos, França e Reino Unido lança uma ofensiva militar após as Nações Unidas a terem autorizado.
A 20 de outubro, Kadhafi é morto num ataque dos rebeldes na sua região natal, Sirte.
Três dias depois, o Conselho Nacional de Transição (CNT), órgão político da rebelião, proclama a “libertação” do país.
As primeiras eleições livres
A 07 de julho de 2012, os líbios elegem a primeira Assembleia Nacional, votação pontuada por atos de sabotagem e violência no Leste.
Um mês depois, a CNT transfere as suas atribuições para o Congresso Nacional Geral (CNG, Parlamento).
Ataques a missões diplomáticas
Após ataques ao consulado norte-americano em Bengazi, que matou o embaixador, em setembro de 2012, e à embaixada francesa em Tripoli, em abril de 2013, a maioria das missões diplomáticas estrangeiras encerra.
Trabalhadores estrangeiros e representações diplomáticas são alvo de ataques e sequestros por parte de milícias armadas ou de grupos ‘jihadistas’.
O surgimento de autoridades rivais
Em junho de 2014, após novas eleições, o Congresso Nacional Geral, dominado por islâmicos e cada vez mais contestado, é substituído por um Parlamento controlado por anti-islâmicos.
Mas, no final de agosto, após semanas de combates mortais, uma coligação de milícias, maioritariamente islâmicas, retoma Tripoli, restabelece o CNG e instala um Governo.
O Governo em vigor até então e o Parlamento recém-eleito exilam-se no leste do país, que acaba com dois executivos e outros tantos parlamentos.
No final de 2015, representantes da sociedade civil e deputados assinam um acordo patrocinado pela ONU, sendo proclamado um Governo de Unidade Nacional (GUN).
O chefe do Governo, Fayez al-Sarraj, muda-se para Tripoli em março de 2016, mas o gabinete paralelo, apoiado pelo “homem forte” do leste, Khalifa Haftar, e o parlamento rejeitam o GUN.
As ofensivas de Haftar
Em julho de 2017, após mais de três anos de combates, Haftar anuncia a “libertação total” de Bengazi dos ‘jihadistas’,
Em junho de 2018, as suas forças tomam Derna, um reduto de islâmicos radicais e a única cidade no Leste que escapou ao seu controlo.
No início de 2019, tomam Sabha, capital do deserto do Sul, e al-Charara, um enorme campo de petróleo.
A 04 de abril do mesmo ano, lança uma ofensiva com o objetivo de tomar Trípoli.
Em junho de 2020, as forças do GUN, apoiadas pela Turquia, retomam todo o Ocidente, expulsando as tropas de Haftar, apoiados pela Rússia, Egito e Emirados Árabes Unidos.
Os avanços políticos, diplomáticos e militares
A 23 de outubro de 2020, as partes beligerantes assinam um cessar-fogo sob os auspícios da ONU.
A 13 de novembro, 75 delegados líbios reunidos na Tunísia concordam com a realização de “eleições nacionais” em dezembro de 2021.
A 05 de fevereiro de 2021, os delegados líbios nomeiam o engenheiro e empresário Abdel Hamid Dbeibah como primeiro-ministro interino, ao lado de um Conselho Presidencial.
A 10 de março, o Governo de transição conquista a confiança do Parlamento e substitui o GUN e o executivo do Leste.
As dúvidas quanto à realização das eleições
Em setembro de 2021, o parlamento com assento no Leste aprova uma lei que rege as eleições presidenciais, ratificada sem ser sujeita a votação e favorecendo Khalifa Haftar, para irritação das autoridades em Tripoli, e vota uma moção de censura contra o governo de transição, exacerbando as diferenças entre os campos rivais.
No início de outubro, o calendário de votações é alterado: a eleição presidencial é marcada para 24 de dezembro, mas as eleições legislativas, inicialmente previstas para o mesmo dia, são adiadas por um mês.
A 12 de novembro, a comunidade internacional clama por eleições “inclusivas” e “confiáveis”, ameaçando com sanções todos aqueles que criarem sobressaltos.
Mas, no final de novembro, o ministro do Interior líbio, Khaled Mazen, manifesta dúvidas sobre a realização das eleições presidenciais dentro do prazo, argumentando com o “agravamento das violações” ao acordo.
Em fins de novembro, depois de encerrado o prazo de entrega das candidaturas, a Alta Comissão Nacional Eleitora (HNEC) líbia confirma oficialmente a apresentação de 98 candidatos, entre eles duas mulheres, às presidenciais.
No entanto, segundo a justiça líbia, várias questões legais impedem a validação oficial de alguns candidatos, como Haftar, Seif al-Islam e Debaibah.
A 01 de dezembro, o secretário-geral da ONU, António Guterres, defende que as eleições não devem ser “parte do problema”, enquanto o presidente em exercício do Conselho de Segurança afirma que não estão reunidas as condições para eleições democráticas.
A 11 de dezembro, a HNEC adia ‘sine die’ a publicação da lista final dos candidatos presidenciais, tornando mais improvável a realização da votação na data prevista.
NM