O ex-presidente Blaise Compaoré, forçado a renunciar ao cargo por pressão popular, regressa na sexta-feira ao Burkina Faso após quase oito anos de exílio na Costa do Marfim, anunciaram fontes do partido do antigo líder.
“Sim, o nosso líder regressa ao país”, confirmou Ambroise Tapsoba, membro do partido do ex-presidente, o Congresso para Democracia e Progresso (CDP), e principal organizador dos comícios do ex-partido governamental, citado pela agência Efe.
Outra fonte próxima do ex-presidente, que voltou recentemente de Abidjan, capital económica da vizinha Costa do Marfim, onde Compaoré vive desde o exílio, confirmou a informação à agência noticiosa.
“Será nesta sexta-feira. O seu regresso estava previsto ainda a partir de agosto de 2021. Desta vez, estão reunidas as condições para que ele finalmente ponha os pés na terra dos seus antepassados”, disse outra fonte, que solicitou o anonimato.
Segundo as fontes consultadas, o regresso não é definitivo e visa conversar com o atual líder que governa o país desde o golpe de janeiro passado, Paul Henri Damiba, e preparar um possível retorno definitivo.
O anúncio do regresso de Compaoré ocorre depois de Damiba ter-se reunido com o Presidente deposto em janeiro, Roch Marc Christian Kaboré, em audiência no dia 21 de junho, ocasião em que também esteve presente o ex-presidente burquinabê Jean-Baptiste Ouédraogo.
Da mesma forma, acontece logo após o ministro de Estado do Burkina Faso, Yéro Boly, ter anunciado na terça-feira o lançamento de um processo de reconciliação nacional a realizar “nas próximas semanas”.
Blaise Compaoré governou o Burkina Faso desde a morte do ex-presidente Thomas Sankara, em 1987, até outubro de 2014, quando renunciou e se exilou na vizinha Costa do Marfim, após a agitação civil que ocorreu quando tentou rever a Constituição para continuar no poder após 27 anos.
Para evitar ser extraditado por causa de um mandado de detenção internacional emitido pelas autoridades de transição da época, o Presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, naturalizou-o costa-marfinense.
Durante o histórico julgamento do assassínio de Thomas Sankara e 12 dos seus companheiros, ocorrido em Ouagadougou, capital de Burkina Faso, entre outubro de 2021 e abril de 2022, Compaoré foi considerado culpado “à revelia” e condenado a prisão perpétua.
Para o ativista Rasmané Zinaba, do Balai Citoyen, movimento da sociedade civil que contribuiu para a queda de Compaoré, o regresso “é, sem dúvida, a oportunidade para a justiça pegar no caso ou demonstrar que é uma instituição vazia, adequada para o caixote do lixo da história”, declarou na sua conta na rede social Facebook.
Para outros burquinabês, o ex-presidente deve poder regressar ao país em nome da reconciliação nacional e contribuir para a luta contra o extremismo islâmico, que já causou o deslocamento interno de mais de 1,9 milhões de pessoas, segundo os últimos números do Governo burquinabê.
O Burkina Faso começou a sofrer os efeitos da violência do extremismo islâmico em abril de 2015, poucos meses após a saída de Compaoré, cujo governo mediava com os fundamentalistas o sequestro de ocidentais na região e tinha um acordo com eles para não atacarem dentro das suas fronteiras.
Em novembro de 2021, um ataque a um posto da Polícia Nacional, que causou 53 mortes (49 polícias e quatro civis) gerou grande descontentamento social que levou a fortes protestos exigindo a renúncia do Presidente Roch Kaboré.
Meses depois, em 24 de janeiro, os militares tomaram o poder num golpe – o quarto na África Ocidental desde agosto de 2020 – e depuseram Roch Kaboré.