No passado dia 3 de Junho assisti, no Salão do Ceiba Hotel, em Bissau, ao lançamento do livro “Conversas Íntimas” da escritora Né Vaz.
O segundo livro (o primeiro foi “Pérola Roubada”, publicado em 2018) de uma jovem, de 29 anos, Mestre em Ciência Política e licenciada em Jornalismo.
A primeira surpresa tive-a ao chegar ao local da apresentação: um salão enorme, com talvez três centenas de pessoas, que iam desde uma grande percentagem de jovens a conhecidos e respeitados intelectuais e políticos guineenses.
Esse simples facto, que desde logo mostrou à saciedade (e à sociedade) que a Guiné-Bissau quer renascer, e que há um empenhamento da “classe pensante” nesse sentido, é suficiente para emocionar todos os que, como é o meu caso, amam este País.
Se outro crédito não merecesse, a escritora – “só” pela oportunidade que criou, dando “uma razão” para juntar, num mesmo espaço, tanta gente culta, patriota, sedenta de paz e Justiça – teria direito às meias encomiásticas palavras.
Acresce que, repito, uma grande percentagem dos presentes era jovem.
Posso mesmo garantir que nunca, em dezenas e dezenas de apresentações de livros a que assisti e/ou participei vi número idêntico.
Sentei-me, curioso, sem saber o que me esperava.
Não conhecia a autora, não tinha lido o seu primeiro livro, não tinha qualquer referência a seu respeito.
Ela estava, obviamente, na mesa de honra, ladeada por dois “pesos pesados” da intelectualidade do país (Odete Costa Semedo – escritora, política e professora universitária e Geraldo Martins – economista, ex-ministro da Economia e Finanças da Guiné Bissau) o que era, desde logo, um bom sinal.
Os discursos destes foram brilhantes prendendo as pessoas da primeira à última palavra.
Como confessei a ambos, no fim da cerimónia, não precisei da comprar o livro porque o meu Amigo (Irmão, para ser mais correcto), o também escritor Francisco Conduto de Pina, me tinha oferecido um exemplar.
Mas, se tal não tivesse acontecido, não hesitaria um segundo a fazê-lo já que as palavras de ambos seriam suficientes para me levarem a comprar nem que fosse a lista telefónica.
Não li, ainda o livro.
Vou lê-lo, vou tentar adquirir a sua primeira obra, e tentarei voltar aqui com a minha opinião.
Fiz questão de escrever estas palavras para lhe agradecer, do fundo do coração, ter conseguido o evento que aqui relato.
Tenho a convicção de que, unicamente pela sua juventude, que não por falta de inteligência ou clarividência, a Né pode não ter a noção exacta da importância que teve o conseguir reunir, numa mesma sala, os melhores do “nosso” Povo.
Os guineenses anseiam pela concórdia, pela paz, por salas cheias de gente a ouvir falar das coisas realmente importantes da vida começando, desde logo, pela literatura.
Um primeiro passo, conseguido por uma jovem, que arrastou dezenas de outros, foi mais importante do que dezenas e dezenas de inflamados discursos políticos.
Daqui de Portugal, para onde regressei, o meu abraço fraterno e grato.
Mas tenho que acabar com uma “ameaça”:
“Ai de si que não esteja, já, a escrever o seu terceiro livro!”
Vítor Ilharco
(Assessor e Escritor)