Embora as atenções estejam naturalmente focadas nas rivalidades desportivas entre as seleções nacionais presentes no CAN/2021, este concerto futebolístico das nações do “continente-berço” pode ser visto através de lentes de uma longa História dos povos hoje de outras geografias, mas de ligações etnográficas resistentes às mutações do tempo.
Guiné-Bissau, Senegal e Gâmbia, representados na prova, já foram parte do grande Império do Mali entre os séculos XIII e finais do século XV, mais concretamente as regiões de Kaabu (Gabu) e Cassa Mansa (Casamansa) em relação aos primeiros. No declínio deste império, Kansala torna-se capital do reino de Kaabu (sec. XVI-XIX), antiga província do Mali, anexando parte importante de Senegâmbia e atual Guiné-Bissau a leste. No reinado de Mansa Djanke Wali, o território é dominado pela islamização Fula, mas as colonizações portuguesa e francesa não permitiram a consolidação do que se prendia que fosse o grande reino de Futa Djalon.
Porém, ainda que as disputas tribais e a colonização europeia tenham deixado marcas para as localizações dos povos envolvidos nestas lutas pela afirmação de Estados, as relações dos nossos dias entre os Fulas e Mandingas, mas também entre os Mandjakus de Gâmbia, Casamansa e Guiné-Bissau perduram no tempo e mantêm os motivos para estes povos se entreolharem como irmãos, porque partilham um passado que chega ao presente em relações de sangue e chão que ultrapassam quaisquer fronteiras traçadas em Berlim.
Ainda podíamos juntar Cabo Verde a esta conversa para recordar o caminho conjunto com a Guiné-Bissau na luta pela libertação do domínio colonial português.
Como exemplo de tudo o que ficou dito, Maurice Gomis, guarda-redes dos Djurtus, é irmão de Alfred Gomis, a representar os Lions de Teranga do Senegal.
Para Mali, Guiné-Bissau, Senegal, Gâmbia, Guiné e Cabo Verde, boa sorte!
Sumaila Jaló – professor e ativista