Tomando como referência as escolhas teóricas e os caminhos epistemológicos de um conhecimento crítico em Amílcar Cabral, um grupo de investigadores de organizações sociais e de ensino superior na diáspora, na Guiné-Bissau, no Brasil, na Alemanha, em Cabo Verde e Portugal, em djuntamon com o Observatório de Estudos da Democracia (OED), organiza o I Curso Internacional Amílcar Cabral de Ensino Superior, que ocorre de 15 de Janeiro a 11 de fevereiro de 2022, on-line, via Plataforma Zoom. A inscrição far-se-á mediante uma carta de apresentação do candidato, justificando seu interesse na realização de curso e um currículo resumido de cinco (5) linhas. Haverá certificação.
Os organizadores propuseram coletivamente eixos temáticos integrados sobre diferentes questões envolvidas nos desafios antigos de questões atuais sobre a herança metodológica e epistêmica de Amílcar Cabral sobre os desafios de conhecimento crítico, cidadania, direitos, democracia, educação, resistência e política externa. O público alvo são estudantes de ensino superior, organizações universitárias, organizações da sociedade civil e dos movimentos sociais. A partir de suas obras, queremos entender, sobretudo, os fundamentos da crise africana e as condições de possibilidade da independência, tendo como recurso um conhecimento e o lugar da epistémê cabralista com objetivos de entender a sua contribuição conceitual, nos períodos após a independência, sua atualidade e possíveis limites, no contexto da democratização.
Quadro referencial
A tarefa principal dos movimentos de libertação em África, no contexto pós-guerra (1939-1945), consistiu em construir um Estado Nacional. Esse processo de construção nacional por dirigentes de novos Estados africanos teve que levar em conta, por um lado, a influência do ambiente político internacional com os problemas internos e, por outro, as pretensões econômicas e políticas das elites governamentais em criar novas estruturas sociais em África de modo que houvesse um compromisso com a independência nacional e os países africanos assumissem seus próprios destinos. A experiência da luta armada de libertação nacional, nas ex-colônias portuguesas em África, gerou a produção de modelos de pensamentos, tendo em conta a realidade concreta dos países colonizados. Para Amílcar Cabral, o estudo da transformação estrutural da realidade constitui o fundamento epistêmico de uma consciência crítica. O I Curso Internacional Amílcar Cabral de Ensino Superior é um evento pioneiro, iminentemente acadêmico e intelectualmente engajado, sem vinculação à política partidária e política do Governo. Enquadra-se no âmbito dos esforços evidenciados no decorrer dos anos, tanto na Guiné-Bissau como em Cabo Verde, em comunhão de espírito de djuntaman à figura de Amílcar Cabral, intelectual, homem de lutas histórico-sociais cujas contribuições teóricas colaboraram para a emancipação individual e coletiva dos povos oprimidos do Atlântico Sul, da África, do Sul da Europa e Sul da América Latina. O desafio da emancipação intelectual e política contra o imperialismo exigia que houvesse um “socialismo científico africano” de uma análise crítica ao capitalismo e ao colonialismo que servissem de pedra de toque contra a política de assimilação e alienação dos povos colonizados. A obra “A prática Revolucionária” (1977), “A arma da Teoria” (1978), “Análise de alguns tipos de resistência” (1979) e “A cultura nacional” (1988), de Amílcar Cabral, entre outras referências, surgiram como resposta intelectual aos fantasmas do (neo)colonialismo de uma revolução que conjugava a teoria e a práxis revolucionária de um conhecimento crítico. Não obstante, apesar dos esforços de Amílcar Cabral, que marcou a euforia pós-independência, houve, posteriormente, um divorcio entre os seus pressupostos teóricos e a prática política dos novos governantes, no campo da gestão pública do Estado. O legado conceitual de Amílcar Cabral apresenta-se, na atualidade, muito mais como um património dos Governos e partidos políticos remetido às narrativas oficiosas do baú de datas das lembranças do que um manual de leitura acadêmica, com ensinamentos sob a perspectiva ética. No campo da produção intelectual, o legado epistêmico de Amílcar Cabral, rigorosamente formulado, ficou à deriva. Não surgiram novas teorias, nem a reformulação do que havia sido deixado por ele, mesmo com a democratização do ensino e pluralismo de conhecimento que acompanharam a Era da Informação, da ciência e da tecnologia. Caberia perguntar: de que modo o legado de um conhecimento emancipador dos povos oprimidos do Atlântico Sul teria sobrevivência com a crise do “socialismo real”, pautada na ideologia marxista-leninista? Uma das respostas está no fato de que o debate crítico ao colonialismo e ao racismo foi suplantado pela narrativa eufórica do capitalismo no quadro da globalização de um pensamento único, com forte presença da politica de gerenciamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM) nos finais da década de 1980 e início dos anos de 1990 em diante. O I Curso Internacional Amílcar Cabral de Ensino Superior é organizado pelo Observatório de Estudos da Democracia da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, em djuntamon com a Rede Nacional de Associações Juvenis, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Renaj e Inep – de Guiné-Bissau), o Projeto Contributo (Guiné Bissau – Portugal), a Associação de Estudantes Guineenses (AEGU-Unilab) e a Associação de Estudantes Cabo-Verdianos (AECVU-Unilab). Pretendemos, modestamente, contribuir com a urgente tarefa de estudar as obras originais de Amílcar Cabral, em diálogo com trabalhos comentados produzidos por estudiosos de Ciências Sociais e Humanas, na África, na Europa, na Ásia e nos Estados Unidos que se somam as comunicações dos “Simpósios Internacionais Amílcar Cabral e a Luta de Libertação Nacional e Social em África”, realizado há vinte e seis anos (em Março de 1986), em Bissau, e o II Simpósio de Cabo Verde, intitulado “Cabral no Cruzamento de Épocas”, realizado em Setembro de 2005. É imperioso o djuntamom de potencialidades de leituras com todos os intelectuais e acadêmicos do mundo, mormente guineenses e cabo-verdianos, com vista a colocar Amílcar Cabral dentro das Universidades e dedicar espaços nas aulas para prática da leitura individual e coletiva nas organizações da sociedade civil para incentivar o exercício do pensamento crítico e romper com narrativas meramente oficiosas, de cunho político-partidário e escritos memorialista, com os quais o narrador-combatente se apresenta em primeira pessoa, às vezes de forma religiosa e apaixonada. Não se trata de abjurar tais narrativas, que são importantes para o imaginário da unidade da nação. A nossa preocupação é outra. Consiste a não incorrer no risco de uma única narrativa ou privatização da memória coletiva do legado epistêmico-conceitual de Amílcar Cabral. O Curso destina-se aos estudantes de ensino superior da Comunidade dos Países da Língua Oficial Portuguesa (CPLP). Justifica-se pela solicitação que, há pelo menos alguns anos, tem demandado a sociedade acadêmica internacional, em África e em suas diásporas, tanto nos cursos de graduação, quanto do curso de pós-graduação.
Metodologia
A metodologia consistir-se-á em aulas expositivas e seminários temáticos: leitura obrigatória dos textos, na perspectiva crítica, reflexiva e dialógica, de acordo com os conteúdos dispostos no plano do curso. No entanto, o diálogo estabelecido em sala de aula virtual será de fundamental importância para perceber a apropriação relacional e crítica dos conteúdos e dos conceitos por parte da/o aluna/o. O acesso às vídeoaulas e aos certificados serão disponibilizados de forma totalmente gratuita aos estudantes. Todas as informações sobre certificados e transmissões estarão disponíveis na página do Observatório de Estudos da Democracia: https://www.facebook.com
Djuntamon
Observatório de Estudos da Democracia (OED); Universidade Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB); Rede Nacional de Associações Juvenis (RENAJ); Associação de Estudantes Guineenses (AEGU); Associação de Estudantes Cabo-Verdianos (AECVU); Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP); Projeto Contributo (PC); Projeto de Extensão Sociologia Africana (PESA); Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE); Djuntamon Guiné-Bissau (DGB).
Firkidja
Ivanovica Tavares Sá (UNILAB); Seco Duarte Nhaga (RENAJ); Igor Oscar Teixeira (UNILAB); Umaro Candé (ISCTE); Danilo Biaguê (ISCTE); Carlos Bideta Ialá (ISCTE); Sambite Santos Cabi (UNIOESTE); Paulo Miguel Fernandes (FGV); Profª Drª Joana D`Arc de Sousa Lima (UNILAB); Prof° Dr° Ricardino Dumas (UNILAB e INEP).
Apoio
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB); Colegiado do Curso de Licenciatura em Sociologia; Pró-Reitoria de Extensão, Arte e Cultura (Proex/Unilab).
Programação
Dia 14|01|22
SESSÃO 1: Conhecimento, marxismo e a cultura
Sábado Horário: 13h (Brasil), 15h (Cabo Verde), 16h (Guiné-Bissau), 16h (Portugal)
– Amílcar Cabral, colonização do saber e a naturalização dos conceitos.
– Conhecimento e práxis na tradição marxista
– Caráter epistemológico dos conceitos teóricos cabralistas
– Relação entre a crise do conhecimento e a crise africana
– Pos-colonialíssimo, poesia, literatura e identidade cultural
– Papel do intelectual e a contribuição da cultura nacional
Dia 21|01|22
SESSÃO 2: Sociedade, estado e a democracia
Sábado Horário: 13h (Brasil), 15h (Cabo Verde), 16h (Guiné-Bissau), 16h (Portugal)
– Amílcar Cabral e a teoria política contemporânea
– Estado, classe, nação etnia e identidade.
– Democracia, justiça e governabilidade.
– Ética Política, cidadania e governança.
– Políticas públicas e processos de transformação
– Reforma do Estado e a diáspora acadêmica
Dia 28|01|22
SESSÃO 3: Direitos, cidadania e resistências.
Sábado Horário: 13h (Brasil), 15h (Cabo Verde), 16h (Guiné-Bissau), 16h (Portugal)
– Amílcar Cabral e a dignidade individual e coletiva
– Direitos ambientais e ecológicos
– Direitos sociais e políticos
– Direitos culturais e artísticos
– Direitos dos territórios e da terra
– Direitos das mulheres e dos jovens
– Direitos das crianças e dos trabalhadores
Dia 04|02|22
SESSÃO 4: Desenvolvimento, educação e política externa
Sábado Horário: 13h (Brasil), 15h (Cabo Verde), 16h (Guiné-Bissau), 16h (Portugal)
– Amílcar Cabral, desenvolvimento e a teoria da dependência.
– Cooperação internacional e indústrias extrativas
– Cooperação regional e solidariedade Sul Sul
– Cooperação África Brasil de ensino superior
– Amílcar Cabral fala da educação como alavanca
Dia 11|02|22
SESSÃO 5: Atualidade e a renovação dos conceitos de Cabral
Sábado Horário: 13h (Brasil), 15h (Cabo Verde), 16h (Guiné-Bissau), 16h (Portugal).
– Amílcar Cabral e a naturalização dos conceitos
– Conteúdos e fundamentos da dignidade humana
– Limites conceituais e os problemas atuais: a herança negativa da luta armada
– Soberania intelectual e novas perspectivas analíticas
– Amílcar Cabral, fidjus dibideras e a renovação conceitual.
Referências originais
CABRAL, Amílcar. A geração de Cabral. Estudo. Trabalho. Luta. Instituto Amizade. Palestra feita na Escola-Piloto. Guiné-Bissau: Coord. por Mário Pinto de Andrade, 1973
CABRAL, Amílcar. PAIGC. Unidade e luta II. Obras escolhidas de Amílcar Cabral. Coord. por Mário Pinto de Andrade, vol. II. Lisboa: Seara Nova, 1977.
CABRAL, Amílcar. A prática revolucionária: unidade e luta. Coord. por Mário Pinto de Andrade, vol. II. Lisboa: Seara Nova, 1977.
PAIGC. O militante. Em marcha a preparação do III Congresso do PAIGC. Amílcar Cabral com os negros americanos. Construir unidade passo a passo, 1977.
CABRAL, Amílcar. A arma da teoria. Unidade e luta. Obras escolhidas de Amílcar Cabral. Coord. por Mário Pinto de Andrade, vol. I. 2ª Edição. Lisboa: Seara Nova, 1978.
CABRAL, Amílcar. Análise de alguns tipos de resistência. Bolama: Edição do PAIGC e DEDILD, Imprensa Nacional, 1979.
CABRAL, Amílcar. A cultura nacional. Coleção Cabral ka muri. 9. Bissau: Avante-SARL, 1988.
CABRAL, Amílcar. Amílcar Cabral. Ensaios de biografia política. Coord. por Mário Pinto de Andrade. Fundação Amílcar Cabral. Praia: 2014.
Outras referências
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CARDOSO, Humberto. O partido único em Cabo Verde: um assalto à esperança. Praia: Edição, Livraria Pedro Cardoso, 2016.
DAVIDSON, Basil. The politics of armed struggle: national liberation in the african colonies of Portugal. England: 1976
CABRAL, Luís. Luís Cabral lança suspeita de envolvimento de Aristides Pereira no assassinato de Amílcar Cabral. Entrevista conduzida por José Vicente Lopes. In: Voz do Povo, 13 junho de 1991, p. 4 e 5.
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FOBAJONG, John. Articulando as visões regionalistas e pan-africanistas de Cabral. In: LOPES, Carlos (org). Desafios contemporâneos da África. O legado de Amílcar Cabral. UNESP. São Paulo: Editora UNESP. 2012, p. 167-203.
FUNDAÇÃO AMÍLCAR CABRAL. Que estados, que nações em construção nos cinco? Colóquio internacional. Praia: 1996.
FUNDAÇÃO AMÍLCAR CABRAL. II Simpósio Internacional Amílcar Cabral. In: Cabral no cruzamento de épocas. Comunicações e discursos produzidos no II Simpósio Internacional Amílcar Cabral. Editora Alfa Comunicações. Praia: set. 2005.
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RUDEBECK, Lars. Uma interpretação das teorias de Cabral sobre a democracia. In: LOPES, Carlos (org). Desafios contemporâneos da África. O legado de Amílcar Cabral. UNESP. São Paulo: Editora UNESP. 2012, p. 133-145.
SOUSA, Soares Julião. Amílcar Cabral. Vida e morte de um revolucionário africano. Prefácio de José Carlos Venâncio. Lisboa: Editora Nova Veja 1ª edição, 2011.
TOMÁS, António. O fazedor de utopias: uma bibliografia de Amílcar Cabral. Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro. Praia: Spleen Edições, 2008.
VAMBE, Taonezvi Maurice e ZEGEYE, Abebe. Amílcar Cabral e as vicissitudes da literatura africana. In: LOPES, Carlos (org). Desafios contemporâneos da África. O legado de Amílcar Cabral. UNESP. São Paulo: Editora UNESP. 2012, p 35-67.
VIERA, João Bernardo. Amílcar Cabral e a luta de libertação nacional e social em África. In: Jornal Nô Pintcha. Bissau: Imprensa Nacional. II Simpósio Internacional Amílcar Cabral, 30 mar. 1983, p. 5.
WICK, Alexis. A nação no pensamento de Amílcar Cabral. In: LOPES, Carlos (org). Desafios contemporâneos da África. O legado de Amílcar Cabral. UNESP. São Paulo: Editora UNESP. 2012, p. 69-105.
Exmos senhores; venho por este meio mostrar o meu interesse em participar no Primeiro curso internacional Amilcar Cabral a realizar a 14 de Janeiro 2022. Sou Presidente da Associação Luso Africana de Solidariedade – ALAS. Lisboa . Portugal. Agradecia mais Informações de forma a garantir a minha candidatura .
Sem mais de momento subscrevo-me ; Nicolau Martins Nunes.
A voz da juventude guineense
Qual é a condição da inscrição e em que sait ?